Por que nos sentimos inseguros nos relacionamentos?
Porque nossos relacionamentos adultos são afetados por 4 feridas da nossa criança emocional. Hoje vou abordar duas destas feridas que são: abandono/rejeição e sufocamento. Estas feridas tão ticadas muitas e muitas vezes nos nossos relacionamentos adultos por pequenas coisas. Absorvemos esta ferida quando éramos crianças e experienciamos um sentimento de privação quando nossas necessidades não estavam sendo satisfeitas principalmente pelo nosso pai ou a nossa mãe. Desejávamos ser ouvidos, vistos, respeitados, cuidados e protegidos, mas sentíamos que não havia um espaço seguro, onde pudéssemos expressar essas necessidades e os medos mais íntimos e nos tornamos dolorosamente dependentes, vivendo num perpétuo estado de querer, esperar e necessitar. Neste espaço interno tem muito pânico de sermos abandonados ou rejeitados. E na vida adulta quando alguém nos deixa ou retêm o seu amor, este espaço se abre. Todos nós, no fundo, inconscientemente acreditamos que não haverá ninguém que realmente esteja presente para nós. O ciúme, o medo da intimidade, o pânico dos outros nos deixarem refletem esta crença profunda. E quando duas pessoas se juntam, são como duas crianças famintas, cada uma esperando que a outra preencha o seu buraco. Até os mais durões têm uma criança escondida lá dentro, cheia de expectativas e necessidades não atendidas. Estas expectativas podem aparecer no sexo, na comunicação, no tempo de ficar juntos, na necessidade de ser visto, compreendido, ouvido, apoiado e reconhecido.
Aprendemos a usar algumas estratégias para não sentirmos a ferida: papel de protetor, acreditando que estamos apenas preocupados com o outro, papel de super atencioso, encobrindo o medo de ser abandonado e o papel de sedutor, charmoso ou conquistador, mas nunca aprofundando realmente o relacionamento por medo de ser rejeitado.
Quando esta nossa ferida é ticada reagimos dominados pela nossa criança emocional reativa: brigando, culpando o outro, agredindo, nos recolhendo, tentando fingir que não houve nada, etc…
A outra ferida é a do sufocamento, onde a experiência de sermos dependentes num relacionamento nos coloca num estado de pânico de sermos controlados, dominados, manipulados ou invadidos e nos tornamos anti-dependentes, evitamos que o outro chegue muito perto porque temos a crença de que nossa liberdade, energia, criatividade ou até mesmo a sexualidade será destruída se deixarmos o outro chegar muito perto. Nesta ferida reagimos ao menor sinal de controle, invasão, manipulação ou posse. Contudo não tem muito a ver com o que o outro faz, o outro é apenas a faísca. A carga está em nós.
È importante compreender que não é o comportamento do outro que pode nos aprisionar. A verdadeira prisão é a nossa inconsciência e nossa reação automática. A pessoa que se sente invadida acredita que precisa de espaço e distância para se sentir livre, mas o espaço que ela realmente necessita é interno para encarar os seus medos. Geralmente quem tem esta ferida em predominância tiveram pai/ mãe controladores ou pai/mãe que usava a filha ou filho como substituto do amor e atenção que não vinha do cônjuje e não aprenderam a confiar no amor.
Quando esta ferida é ticada reagimos tendo um comportamento ambivalente: às vezes sendo duros com culpa depois e às vezes sendo condescendentes. Queremos amor e liberdade e ficamos no meio.
Podemos observar que o anti-dependente que vive nesta ferida de sufocamento está menos em contato com a sua fome e necessidade de amor e proximidade porque a sua sobrevivência foi aprender a negar essas necessidades e o dependente que vive predominantemente na ferida do abandono está menos em contato com a sua necessidade de espaço e liberdade porque a sua sobrevivência foi uma constante e compulsiva busca de amor e isto vira uma luta de puxa e empurra. O dependente dizendo: – Me dá atenção e o anti-dependente: – Não chegue perto demais, preciso de espaço, não jogue as suas necessidades em mim porque preciso explorar a minha liberdade.
Chaves para lidarmos com estas feridas:
- darmos tempo e espaço para sentirmos a ferida ao invés de desenvolvermos vícios, compensações ou distrações para fugir dela;
- ficarmos conscientes da situação provocadora;
- compreendermos que as pessoas são como são e não podemos esperar que elas mudem.
E como podemos nos relacionar num espaço de confiança e intimidade?
Ambos os parceiros devem buscar compreender as feridas de abandono/rejeição e do sufocamento e estabelecerem um diálogo ao invés de sempre reagirem um ao outro. Existe uma grande diferença entre reagirmos à partir do passado e respondermos no momento.
Todos nós somos co-dependentes em nossos relacionamentos?
Eu diria que sim. E a maneira de sair da co-dependência é reconhecer que a outra pessoa não irá preencher as nossas necessidades insatisfeitas. Indo mais longe, nós não podemos transformar a outra pessoa no pai ou mãe amorosa que nunca tivemos quando éramos crianças. No momento em que começamos a assumir a responsabilidade por nós mesmos, mesmo que aqueles sentimentos surjam não estamos mais na co-dependência. Nós somos co-dependentes quando ainda estamos tentando fazer com que a outra pessoa preencha todas as nossas necessidades.
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