Total de visualizações de página

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A difícil tarefa de crescer





 – uma questão que de tão óbvia dói: era tão bom ser criança...
Quando eu era pequena, meu maior sonho era simplesmente crescer. Tenho certeza que você também partilhava da mesma vontade inexplicável de virar adulto antes do tempo. Para mim e para você parecia muito mais vantajoso ser adulto, às vezes até muito fácil. Poderíamos fazer o que quiséssemos, ou pelo menos achávamos isso. Teríamos liberdade, ninguém mandaria em nós, teríamos dinheiro, poderíamos dirigir ou ficar acordados até mais tarde, namorar, usar salto alto, gravata. Quantas vezes brinquei com uma máquina de escrever velha... Eu era a jornalista, a secretária, a escritora e trabalhar na minha brincadeira parecia fácil. Ai, ai, como queríamos ser grandes.
Hoje fazemos quase tudo o que queremos, mas temos o bendito senso para discernir o que realmente podemos. Temos a nossa liberdade sim e a nossa tão almejada vida adulta. E com ela temos problemas. Muitos problemas. Temos a responsabilidade das contas, das dívidas, dos compromissos inadiáveis, do trabalho que não é tão fácil como nas tardes ociosas de quando éramos moleques. Temos que crescer. Tomar conta de nossas vidas e às vezes de outras vidas cedo demais: filhos, pais, nossos escolhidos para nos levar ao altar. E aí chegamos ao dia em que no fundo, no fundo nosso maior sonho é simplesmente voltar a ser criança.
O trabalho de Estudos Sociais inadiável que valia 5 pontos não parece hoje o maior problema do mundo. Nem o fato do garoto mais bonito da escola, de quem você era a fim, estar dando bola para a novata. Ter que tomar banho no meio da brincadeira não causa mais tanto ódio. Ficar de castigo era até bom. Tão bom como só ter que estudar e nada mais e nem entender o que diabos é Imposto de Renda.
Crescer é tão difícil e não tem esse nome à toa. Amadurecer às vezes acontece à duras penas. E a gente começa a se deparar com problemas de verdade, de gente grande. E a lidar com pessoas que te apunhalam pelas costas e aprender a ter um bom faro para reconhecer os poucos que vão te proteger dessas facadas. Um bom faro também para determinar quais problemas são realmente urgentes ou realmente problemas e quase ou nenhum faro pra descobrir a melhor solução para resolvê-los.
É claro que daqui a alguns anos nada disso vai fazer muito sentido, porque até os nossos problemas reais de hoje vão parecer totalmente banais com os que teremos mais tarde. Criar urticária por um problema de cartão de crédito ou desejar a morte por um pé na bunda, tudo isso vai ser dos males o menor, porque quanto mais crescemos mais espaço temos para problemas maiores que nós. É incrível como o crescimento é proporcional.
Mas esse não é para ser um texto pessimista ou depressivo, não. Crescer tem suas vantagens sim, claro. A cada ano ficamos melhores e mais espertos, mais vividos e saboreamos nossas conquistas feitas com as próprias mãos. Mas é apenas para lembrar que nada é o que parece e que nunca estamos satisfeitos, mas principalmente que para ganharmos alguma coisa sempre teremos que abdicar de outras. E dessa vez infelizmente, da inocência. Eu não quero ser grande.


site - www.orm.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário