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quarta-feira, 10 de abril de 2013

O amor e a febre.


O amor e a febre.

Amor não existe. O que existe é o estado de amar, composto, basicamente por três elementos fundamentais e imprescindíveis: projeção, sensação e reciprocidade. No momento em que um item deste tripé é subvertido, o estado de amar passa a hesitar, embora possa ser confundido, ortodoxamente, com amor eterno, pela saudade, dor e frustração, que remete, invariavelmente, ao sofrimento. Em alguns casos.
Sem projeção, não há sentimento que perdure. É como você trabalhar numa loja que vende videocassetes. A falência é certa. Inevitável enviar currículos e comprar o jornal de domingo pra procurar emprego. Você morreria trabalhando nesse lugar, num feriado, por exemplo, se tivesse outra opção? Por quê? Não é um lugar bom pra você? Talvez até seja, mas não há perspectiva de continuidade, então, você perde, naturalmente, o interesse.
Não há estado de amar sem te sentir plenamente realizado. Sentir boas sensações. A segunda parte do tripé. E aí se inclui uma série de circunstâncias: a subtração de sorrisos por lágrimas deve ter saldo positivo. A tua ‘gana’ de amar - que não deixa de ser uma manifestação de vontade - pode ser minada com as sensações que sente neste período. As palavras, os gestos e atos, não traduzem fidedignamente o que sentimos, isso passa, mas deixam resquícios nas nossas sensações, e aí está o segredo do estado de amar. Se você não se sente bem amando, então não ama mais.
E, por último, a reciprocidade. Reciprocidade viu? Não compensação. Não há amor, absolutamente, sem reciprocidade. Há teimosia, talvez. Amor, não. É como uma dupla sertaneja. Quando um não canta mais, nem mesmo a nomenclatura ‘dupla’, pode ser utilizada. Aí é carreira solo. Amor com carreira solo, não é amor, é, por enquanto, estado de amar. Mas logo, deixa de ser.
Você pode até dizer eu te amo quando o tripé está ‘desajustado’, mas é bem mais fácil que isso seja obsessão, e não amor. Amor não te faz mal.
O amor pode ir e voltar como bem quer, desde que sejam observados os princípios básicos do estado de amar: projetar eternamente, sentir plenamente e receber igualmente.
Então é heresia dizer eu te amo? Claro que não! Quando estou com febre, também digo: eu tenho febre. Não quer dizer que a febre habita em mim, mas que, pelos meus sinais e indícios, ela, por ora, repousa em mim. Se eu me cuidar, a febre some. Se eu me descuidar, o amor também.
Ninguém sofre por amor. Sofre-se, justamente, por não ter amor. E ele pode, sim, ser pra sempre. Mas, também, quem sou eu pra falar de amor? Esqueçam... 
http://relicariodourado.blogspot.com.br